Coluna Científica

Entendendo o significado da palavra aborto

Autora: Marcia Léon.

 

A palavra aborto refere-se ao processo de interrupção da gravidez, em especial quando o feto não possui condições fisiológicas de sobreviver fora da cavidade uterina da mãe.

Podemos definir dois tipos de aborto, muito bem delimitados pela Ciência Médica: O primeiro, denominado aborto espontâneo, também conhecido como interrupção involuntária da gestação, ocorre geralmente no primeiro trimestre da gestação ou até a vigésima semana desta, tendo, como uma das causas orgânicas principais, as malformações congênitas do feto, embora não possamos deixar de citar as causas maternas, como anormalidades uterinas, imunológicas e outras.

Em média, 20 a 25% das mulheres podem apresentar sangramento espontâneo no primeiro trimestre da gravidez, podendo, este, ser identificado como ameaça de abortamento ou abortamento propriamente dito.

O segundo tipo, denominado aborto provocado ou induzido, delimita a interrupção voluntária da gestação, assistida ou não. Nos países onde o aborto é permitido e legalizado, é assistido por equipe de saúde, e, nos países onde o aborto não é permitido e não é legalizado, o mecanismo de abortamento induzido ocorre de forma clandestina, na maioria dos casos.

Na questão 344 de O livro dos espíritos, Allan Kardec faz a seguinte pergunta aos Espíritos da Codificação: “Em que momento a alma se une ao corpo?”¹ E a resposta não poderia ser mais direta:

A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ele se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.

Desta forma compreendemos que, desde a fecundação, com a formação da célula-ovo ou zigoto, passando pelas formas de embrião, feto, recém-nascido, criança, adolescente, adulto e idoso, seguimos progressivamente em um desenvolvimento ontogenético, ou seja, num continuum da vida, pois, apesar de serem fases fisiológicas diferentes, é o mesmo indivíduo identificável biologicamente ao longo de toda a sua existência.²

Se apontarmos qualquer interrupção que venha a ocorrer neste continuum de desenvolvimento, estaremos nos referindo ao processo de abortamento, seja ele espontâneo ou induzido.

Na pergunta seguinte, a questão 345 de O livro dos espíritos³, o Codificador argui aos Espíritos da Codificação: “É definitiva a união do Espírito com o corpo desde o momento da concepção? Durante esta primeira fase, poderia o Espírito renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado?” E os Espíritos respondem taxativamente:

É definitiva a união, no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Como os laços que ao corpo prendem o Espírito são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podem romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Em tal caso, porém, a criança não vinga.

Nesta resposta vemos claramente que o Espírito pode refugar ao processo reencarnatório dentro do recurso do seu livre-arbítrio, apesar da programação reencarnatória traçada anteriormente, porém, como nos afirma a questão 349 desta mesma secção, o Espírito deverá então aguardar uma nova oportunidade, “a menos que a reencarnação imediata corresponda a anterior determinação”.(4)

Porém, quando se trata do aborto induzido ou provocado, temos a observância da resposta dos Espíritos da Codificação à pergunta 358 de O livro dos espíritos: “Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?” Resposta:

Há crime sempre que transgredis a Lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois isso impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando. (5)

Assim, poderemos então repensar na responsabilidade nossa de esclarecer, a todos os que nos cercam, o quanto é necessária a observância da valorização da vida, oportunidade ímpar que nos é dada, como momento existencial de aprendizado na jornada evolutiva. Tanto o aborto espontâneo quanto o aborto induzido podem estar cercados de causas anteriores e consequências posteriores aos Espíritos envolvidos, sejam eles o pai, a mãe, o Espírito reencarnante, ou outra pessoa, participante do processo, quando se tratar do aborto induzido ou provocado.

Embora tenhamos, enquanto Espíritos encarnados, a liberdade de aniquilarmos a vida corporal através do aborto induzido ou provocado, jamais destruiremos o Espírito, que é imaterial. Dessa forma, é necessário compreender que a vida é muito mais que a manifestação de um corpo físico, mas chance de evolução que se dá por meio de experiências adquiridas e reparadas a cada nova oportunidade encarnatória.

Deus nos dá, a todos, a liberdade de cometer equívocos, que ocorrem através das escolhas que divergem das Leis Naturais ou Divinas, mas acolhe-nos indistintamente, pela sua infinita misericórdia, oportunizando-nos, por meio de cada nova existência corpórea, o momento de reparo diante dessas mesmas Leis e, portanto, de harmonização das nossas consciências.

Referências:

  • KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Segunda Parte, VII. Do retorno à vida corporal. União da alma e do corpo. Questão 344. 93ªedição, Ed. FEB.
  • Durgante, CEA; Aguiar, PRDC; Roberto, Gilson Luiz. O aborto na visão médico-espírita. Conectando Ciência, Saúde e Espiritualidade. Vol. 2, 1ª edição, Ed. MIRA.
  • KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Segunda Parte, VII. Do retorno à vida corporal. União da alma e do corpo. Questão 345. 93ºedição, Ed. FEB.
  • KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Segunda Parte, VII. Do retorno à vida corporal. União da alma e do corpo. Questão 349. 93ºedição, Ed. FEB.
  • KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Segunda Parte, VII. Do retorno à vida corporal. União da alma e do corpo. Questão 358. 93ªedição, Ed. FEB.

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